MALTA, PONTO DE ENCONTRO?
As pessoas não fazem as viagens, as viagens é que fazem as pessoas.
John Steinbeck
Se rejeitares a comida, ignorares os costumes, temeres a religião e evitares as pessoas, mais vale ficares em casa.”
James A. Michener
Geografia
Era
uma vez um pequeno país, no meio do Mediterrâneo central. Visto dos céus mais
parece um rochedo de pedra calcária talhado pela erosão dos ventos.
Sim,
é um pequeníssimo país. Resume-se a um pequeno arquipélago no Mediterrâneo
central, cuja extensão ronda os 315,4 km² (isto faz dele o mais
pequeno país da UE).
População
Acresce a isto uma grande densidade
populacional, a mais elevada da UE (segundo dados de 2020) 1.641,5 pessoas por
km ² .Uma
população pouco envelhecida, 94,8% dela concentrada nas cidades. (1)(2)
Uma população cuja origem é
diversa: semita(árabes), judaica (judeus da Sicília), europeia (Franceses,
Alemães e Britânicos), sem esquecer os monges-cavaleiros de diversas
proveniências, até mesmo Portugueses (dos quais se destacam dois grão-Mestres
muito estimados pelos malteses - António Manuel de Vilhena e Manuel Pinto da
Fonseca). Desta mescla teremos uma população peculiar entre o mundo latino e
semita.
Sim…estamos a falar de Malta. Um estado que só ganhou a sua independência face aos britânicos em 1964, e só formalizou a adesão à UE em 1 de maio de 2004. Um país bem marcado pela história e cheio de peculiaridades.
Economia
Um país de recursos agrícolas pobres, sem
rios nem lagos, as poucas águas são fruto das chuvas que ocorrem apenas no Inverno e se infiltram
em lençóis subterrâneos e se acumulam nas poucas cisternas. Tudo isto faz deste arquipélago um dos mais carentes de
recursos hídricos. Assim, a dessalinização tornou-se um processo de tratamento
de cerca de 70% da água potável do território.
Por tudo o que ficou dito se depreende
que o país está muito dependente das importações e a sua economia tem-se
desenvolvido em torno da indústria, comércio e serviços financeiros, sendo a
sua posição estratégica no centro do eixo nevrálgico Europa/Ásia/África e as
características da sua costa e do seu porto em La Valetta o cerne da sua
importância histórica e económica.
Língua
Um país, duas línguas: o maltês e o
inglês. Mas por detrás do idioma nacional (o maltês, a única língua de matriz
semita, mas com caracteres latinos na UE) uma longa e riquíssima história feita
de cruzamentos de povos que na “estrada” do Mediterrâneo se entrecruzaram. Os
árabes nela se instalaram deixando a matriz semita , o Reino da Sicília
incorporou-a, deixando nela as marcas italianas. Cobiçada por Napoleão
Bonaparte, incorporou as marcas do curto domínio francês ( Bom dia - bonġu [bom’djou] e por fim os
ingleses, nela se instalaram até à
independência e deixaram profundas marcas, as mais visíveis encontram-se a
circulação rodoviária ( circula-se pela faixa da esquerda), linguísticas,
políticas entre outras. Do ponto de vista dos autóctones, algumas dessas marcas
não são tão apreciadas, pois associam-nas ao
empobrecimento e iliteracia a que foram sujeitos às mãos dos invasores.
História
Dissemos ser um pequeno país. É verdade!
Mas isso não invalida a sua longa e riquíssima História, tecida nas
encruzilhadas do tempo das rotas comerciais no Mediterrâneo e dos contactos e
cruzamentos de povos diversos a todos os níveis.
O início da História deste país leva-nos
pelo menos aos tempos Neolíticos (5.200 a.C.), quando um povo “misterioso”
desembarca na ilha e deixa as suas marcas e vinte e três sítios conhecidos de
interesse arqueológico, o mais antigo dos quais remonta a 3.800 a 3.600
a.C..
Aí a deusa da fertilidade marcou a sua
forte presença.
São de destacar os grandes templos
megalíticos de Ħaġar Qim (literalmente Pedras Eretas) nos limites de Qrendi e
de Ġgantija (o Templo dos Gigantes) em Xaghra, Gozo.
Estranhamente esta cultura desaparece por
volta de 2.500 a.C. sem que se encontrem traços de guerra ou de epidemia. Malta
ficará deserta durante alguns anos, mas no fim do II - inícios do I milénio
novas gentes aí desembarcam, provavelmente vindo do sul da Península Itálica
(Calábria) e contactaram com os Fenícios que por lá andavam.
Estes últimos, grandes dominadores do
Mediterrâneo, instalam-se na ilha, seduzidos pelos seus portos, e fazendo dela
um meio de controle na expansão da Magna Grécia e por fim lançar-se-ão contra
os romanos, sendo a ilha tomada por estes últimos, aquando da 2ª Guerra Púnica.
Aqui permaneceu mais tarde o apóstolo São
Paulo depois do seu naufrágio perto de uma das baías de Malta.
Malta continuará sua intrincada história depois da queda do Império Romano do Ocidente e das invasões bárbaras, e o general bizantino Bélisário, na sua luta contra os vândalos, integrá-la-á no Império Romano do Oriente. Em 870 conquistada pelos muçulmanos. Só em 1090, será reconquistada pelos cristãos, a mando de Roger de Hauteville (normando, rei da Sicília).
Dominada durante cinco séculos pelo Reino
da Sicília, a ilha vai mudando a sua face virando-se para a produção de
cereais, algodão e vinha.
Até que chegado o séc. XVI, os cavaleiros
da Ordem Militar de São João Baptista de Jerusalém, fugidos da Cidade Santa, de
Chipre e de Rhodes, aportam a Malta e são apoiados pelo imperador Carlos V para
fazerem dela a sua base militar.
Assim o farão; sofrerão ataques de
otomanos. Em 18 de maio de 1565 sofrerão o Grande Cerco, que só será levantado
em setembro depois de chegarem os reforços espanhóis e após muitas mortes e
destruição.
Este marco significou o início da Ordem
de Malta, que doravante sairá do seu anonimato para se tornar o baluarte da
Cristandade.
À
data o grão-mestre da ordem era Jean de la Valette. Será ele a reorganizar a
defesa da ilha e fazendo dela uma das primeiras cidades a ser escrupulosamente
planeadas para ser um refúgio inexpugnável no Mediterrâneo.
O planeamento da ilha fortaleza e,
sobretudo, da nova capital irá resultar da colaboração de Francesco Laparelli e
Gerolamo Cassar, dois arquitetos italianos.
A ordem foi expulsa, em 1798, pelos
franceses depois da invasão de Napoleão Bonaparte. No entanto, esse domínio
será curto, porque em 1800 Valetta será tomada pelos britânicos e tornar-se-á
uma base naval estratégica e militar britânica de grande importância no
Mediterrâneo.
A cidade foi violentamente bombardeada
durante a Segunda Guerra Mundial. Será aqui que a frota italiana se renderá, em
1943, perante os Aliados.
O
domínio britânico sobre a ilha durou até 21 de setembro de 1964, tornando-se
oficialmente na República de Malta a 13 de dezembro de 1974.
Continua sendo membro do Commonwealth e aderiu
à União Europeia a 1 de maio de 2004 e em 1980 foi considerada património
mundial pela UNESCO, como um dos raros sítios urbanos habitados que preservou
quase integralmente as suas características originais.
Religião
O catolicismo ganhou fortes raízes na
ilha desde o naufrágio de S. Paulo e a presença da Ordem Militar de São João,
mais conhecida por Ordem de Malta, talhará fortemente o seu caráter. Povos
vieram, instalaram-se e partiram, mas a religião ancorou fundo constando na
Constituição como religião oficial do Estado, apesar da mesma garantir a
liberdade de consciência e de culto religioso.
O mais peculiar é que a Igreja católica
tem ainda nos dias de hoje uma forte importância na ilha. Perto de 94% da população é católica e com
forte percentagem de praticantes, quer por convicção religiosa, quer por
condicionalismos sociais. O arquipélago conta com cerca 365 igrejas, entre
Malta, Gozo e Comino, as quais se encontram com bastante assistência nos atos
litúrgicos.
Talvez o facto de o país ser pequeno e de
contar apenas com um poder central tenha contribuído para que a igreja
fortalecesse os laços de proximidade com a população, sobretudo nos períodos de
dominação estrangeira, durante os quais a Igreja constituiu o laço identitário
firme e protetor.
(1) Atlas Mundial de dados - Malta
-economia (s.d.)
https://pt.knoema.com/atlas/Malta/Densidade-populacional, consultado a 21/03/2022
(2) Factos e números sobre a vida na União Europeia -União
Europeia (s.d.)
https://european-union.europa.eu/principles-countries-history/key-facts-and-figures/life-eu_pt, consultado
a 21/03/2022
City Gate, Valletta -
Renzo Piano | Arquitectura Viva - Arquitetura moderna
em articulação com a arquitetura criada no século XVI para fortificar a
ilha (s.d.), consultado a 13/04/2022
Valletta | national
capital, Malta | Britannica
Bibliografia:
GLOAGUEN, Phillipe
(dir.) - Malte 2020/21- Le Routard, Hachette, Paris,2020
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